Saúde
Irmãos de alma, sangue e vida
No dia em que completa 42 anos, Jerônimo Pereira entra na sala de cirurgia do Hran para fazer transplante de órgão, com o propósito de melhorar a vida de José, 44, que sofre de insuficiência renal
Na fila por um transplante de rim, no Distrito Federal, estão 232 pacientes. Muitos vivem uma longa e angustiante espera. Sessões de hemodiálise três vezes por semana. Dias de querer desistir. Mas sempre aquele brilho de esperança em cada olhar, em cada história. Hoje, os irmãos Neto e Jerônimo entram juntos na sala de cirurgia para tornar ainda mais bonita uma história de amor e amizade que começou no Ceará há mais de 40 anos.
José Pereira Neto tem 44 anos. Cabelo cortado curto, tipo escovinha, querendo embranquecer, óculos de grau, ele exibe um certo quê de fragilidade ao lado do irmão, Jerônimo Pereira Paiva que, hoje, está completando 42 anos. Mais alto, mais forte, mesmo tipo de corte de cabelo, a voz mais forte, as mãos de gestos mais enérgicos.
Esta é a energia que Jerônimo vai começar a dividir com o irmão, quando doar um rim para salvar sua vida. Neto — apelido de família — vive há dois anos graças à hemodiálise. Em 5 de janeiro de 2006, desmaiou na cozinha do restaurante Roma, onde trabalhava. No Hospital Regional da Asa Norte, exames revelaram que a insuficiência renal atingira os dois rins. Internado numa sexta-feira, na segunda-feira seguinte, já fez a primeira hemodiálise de urgência.
Seu caso tornou-se sério. A fila por uma doação não seria suficiente. Não teria tempo para esperar. Três meses depois do diagnóstico, os médicos conversaram com a família sobre a possibilidade de um dos seis irmãos de Neto ser doador. “Primeiro, vamos ver entre os homens”, lembra Jerônimo. Dos três irmãos, ele tirou a nota máxima: 100% de compatibilidade.
“O caso deles significa que a chance de rejeição é mínima”, explica a nefrologista do Hospital de Base, Eugênia Tonin.
Quando relembra o resultados dos exames, os olhos de Jerônimo brilham. “Gostei demais. Foi a chance de dar uma qualidade de vida melhor para meu irmão. Sou motorista de ônibus, levo pessoas que às vezes passam mal, sei o que é sofrer. Família é para isso”, afirma sorrindo.
Bagagem
O tempo custa a passar no quarto do hospital. De pijamas iguais, eles ficam ainda mais parecidos. No olhar, na voz, há um carinho entre os irmãos que deixa bem claro que eles chegaram a um ponto na vida em que nada mais há de os separar. A dor fez seu estrago, mas a mesma dor os fortaleceu.
Eles começam a lembrar quando Neto deixou o Ceará, em 1982, para tentar uma vida melhor em Brasília. Dois anos depois trouxe Jerônimo, a mãe e o irmão caçula. O pai veio mais tarde. Ele e Jerônimo moraram juntos até Neto se casar em 1987.
Ontem, a mãe, Maria Mariazinha, estava ansiosa pela cirurgia dos filhos, mas também esperançosa. “Tem horas que eu fico pensando, pensando… Mas eu estou com fé em Deus que vai tudo correr em paz.”
Por trás da máscara que precisa usar quase todo o tempo, Neto faz um agradecimento. “Primeiro a Deus, depois ao meu irmão. Esse é o melhor presente da minha vida. Depois, às nossas famílias, sempre do nosso lado. Depois, aos amigos, que nos ajudaram até com dinheiro quando precisávamos fazer exames com urgência e não podíamos esperar pelo SUS".
E Jerônimo completa. “A gente sabe que o transplante não é para sempre, que ele vai tomar medicamento e o rim pode parar. Mas eu estou dando vida para o meu irmão. Esse é o melhor presente para mim.”
Igreja Católica apóia
Importante a posição da Igreja Católica a favor da doação de órgãos, divulgada em nota oficial pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, na semana passada. “Essa manifestação ajuda a esclarecer a população”, afirma a médica. A CNBB afirma que “a moral católica considera lícita não apenas a doação voluntária de órgãos, bem como os transplantes”.
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terça-feira, 30 de setembro de 2008
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