Santo Tomás de Vilanova
Considerado o anti-Lutero
Em 1516 ingressou na vida religiosa, junto aos agostinianos. Dois anos depois foi ordenado sacerdote e, logo em seguida, contra sua vontade, foi eleito superior, cargo que ocupou até 1544. O imperador Carlos V propôs então que se tornasse bispo da sede de Valência. Seu ingresso no bispado se deu exatamente no dia 1º de janeiro de 1545. Baseou seu trabalho, como pastor, nos ensinamentos de Paulo e nos exemplos de grandes bispos da antiguidade cristã, entre eles Agostinho, Ambrósio e Gregório Magno.
Uma de suas maiores obras foi organizar várias formas de assistência. Entre elas, criou no palácio episcopal um orfanato para as criancinhas abandonadas, dando-lhes abrigo, cuidados e o carinho que tanto necessitavam. Acolhia de tal forma essas crianças que um dia chegou a ceder sua própria cama, pois não havia mais lugar para abrigá-las.
Tomás de Vilanova morreu no dia 08 de setembro de 1555. Só em 1658 foi incluído no álbum dos santos, pelo Papa Alexandre VII.
São Tomás de Vilanova nasceu em Fuenllana (Espanha) no ano de 1488 e criou-se em Villanueva de los Infantes, de onde tomou seu nome ao entrar na Ordem dos Agostinianos.
Seus pais, Alonso Tomás Garcia e Lucia Martinez de Castellanos, emulavam nas obras de caridade. Socorriam a toda espécie de necessidades e eram conhecidos na região como “os santos esmoleres”.
Tomás herdou dos pais essa virtude. Dava a seus coleguinhas mais necessitados tudo o que podia, inclusive suas próprias vestes e calçados. Um dia em que os pais não estavam em casa, chegaram seis pobres pedindo esmola. O menino, não encontrando nada para dar-lhes, foi ao galinheiro e pegou seis franguinhos, dando a cada um dos pobres um destes. E disse à mãe que, se houvesse mais um pobre, ter-lhe-ia dado também a galinha.
Seguindo o exemplo da mãe, desde muito cedo começou a jejuar, não só nos dias prescritos pela Igreja, como também em outros de sua devoção. Flagelava-se e fazia outras sortes de penitências como se fosse um adulto. Diz um seu biógrafo que Tomás “começou a praticar a mortificação a fim de fazer sentir à sua carne as dores da penitência, mesmo antes que ela fosse suscetível aos prazeres da concupiscência”.
Seu confessor, o Padre Tiago Montiel, depôs publicamente que ele guardou a inocência batismal até o túmulo. Estudante modelar na universidade de Alcalá. Aos 15 anos, os pais enviaram-no à famosa Universidade de Alcalá, para cursar humanidades, retórica, filosofia e teologia.
Ele o fez com tanto sucesso, nos nove anos de estudos naquela instituição, que era aclamado por todo mundo. Mas sua virtude era ainda mais notável que sua ciência. Apesar do sucesso que obtinha, jamais perdeu sua modéstia e humildade, aceitando os elogios como se não fosse ele que estivesse em foco.
Aos 17 anos, a morte de seu pai obrigou-o a voltar temporariamente para casa, a fim de pôr em ordem os assuntos domésticos. Coube-lhe por herança uma grande residência, que transformou em hospital para os pobres. Sua mãe cumpriu sua vontade, encerrando-se ela mesma no hospital, para passar os seus anos de viuvez a serviço dos pobres.
De professor de filosofia a frade agostiniano
Voltando para Alcalá, passou a ensinar filosofia na Universidade aos 26 anos. Mas outras eram suas preocupações. Havia muito vinha ele pensando em consagrar-se inteiramente a Deus, mediante a vida religiosa. Por isso, deixou as glórias do mundo, pelo hábito agostiniano, fazendo sua profissão solene em 1517. É sintomático que neste mesmo ano, Lutero, ainda frade agostiniano, iniciou sua rebelião contra a Igreja Católica, afixando na porta da capela do Príncipe Eleitor da Saxônia, na cidade de Wittenberg, suas 95 proposições. Dentro da mesma Ordem, outro frade agostiniano, com sua profissão religiosa, iniciaria uma obra restauradora da fé e dos bons costumes — uma autêntica reforma — na Espanha. Tarefa completada posteriormente por Frei Tomás, como santo Arcebispo da cidade de Valência.
Ordenado sacerdote algum tempo depois, celebrou sua primeira Missa no dia de Natal, entrando em êxtase ao cantar o Glória. Ele conservaria para sempre uma terna devoção à Divina Infância e ao Santo Sacrifício do altar. Costumava dizer que é péssimo sinal para um sacerdote, quando ele é visto celebrar a Missa todos os dias sem se tornar melhor nem mais mortificado.
Não perdia um minuto durante o dia. Podia ser encontrado nos cinco diferentes lugares, que consagrou às cinco chagas de Cristo: no altar, no coro, em sua cela, na biblioteca ou na enfermaria, cuidando dos doentes.
O Santo não podia ver um religioso ocioso e inútil, comparando-o a um soldado sem armas e exposto ao ataque de seus inimigos.
Dizia que a ciência e grande erudição, sem a piedade, é como uma espada na mão de uma criança, arma que pode feri-la, pois não tira proveito daqueles dons de ciência para ninguém. Criticava também os religiosos que, sob pretexto de devoção, não se aplicavam suficientemente ao estudo.
Outro São Paulo ou Santo Elias
Designado à pregação, ele a fazia com tanto empenho, que o consideravam um outro São Paulo, pela profundidade de sua doutrina, ou um outro Elias da nova Lei, por causa do zelo que demonstrava em seus sermões. Reformou de tal maneira Salamanca que, segundo voz corrente, a cidade se havia tornado um mosteiro. Muitos jovens renunciaram ao mundo para seguir a Deus. O próprio Imperador Carlos V quis ouvi-lo, e depois escolheu-o para seu pregador. E quando Tomás pregava fora do palácio, o Rei ia disfarçado para ouvi-lo.
O santo não aprovava os pregadores que, para dar mostras de erudição, faziam longos e prolixos sermões. “É na oração, dizia ele, que o homem recebe as luzes que iluminam seu espírito e os ardores que aquecem sua vontade”. E é a esses sentimentos que se deve procurar levar o auditório.
Por uma visão interior, conhecia as necessidades espirituais de seus ouvintes, e o mais admirável era que, por mais diferentes que fossem seus interlocutores, todos saíam com maior piedade após ouvir seu sermão.
Preguiça e ociosidade: inimigas da virtude
Tomás foi eleito prior de Burgos e Valladolid, e duas vezes provincial da Andaluzia e uma de Castela. No governo de seus súditos, sua mansidão de coração e o atrativo de sua pessoa constituíam poderosas armas para exercer sua autoridade.
Nos seus conventos, desejava primeiro que os ofícios divinos fossem celebrados com toda a reverência e atenção possíveis; em segundo lugar, que os religiosos considerassem a meditação e a leitura espiritual como coisas invioláveis; terceiro, que a paz e a união na caridade fraterna fossem guardadas sem nenhuma alteração; e finalmente, que ninguém fosse dominado pela preguiça ou pelo ócio, vícios que são os maiores inimigos da virtude, a ruína da alma, o sorvedouro da castidade e a fonte de todas as desordens.
Com tais normas, fez ele florescer a observância em todas as casas sob sua jurisdição, ou seja, promoveu uma verdadeira reforma no sentido católico do termo.
Carlos V já tentara inutilmente fazer Frei Tomás aceitar a Sé de Granada. Vagando a de Valência, o Imperador escolheu para o cargo um monge jerônimo. Entretanto, seu secretário apresentou-lhe o documento para assinar em nome de Frei Tomás de Vilanova. O Imperador perguntou por que havia o secretário alterado suas ordens. “Como, majestade! Eu ouvi claramente que vós dizíeis Frei Tomás de Vilanova. Entretanto, é fácil reparar, pois é só refazer o documento”. — “Não, respondeu o Imperador, o que está escrito permanecerá; vós fizestes melhor do que eu disse; ou eu disse melhor o que não pensava. É a mão de Deus”.
Compelido pela santa obediência e ameaçado de excomunhão, caso não aceitasse o cargo, Frei Tomás teve que curvar a cabeça e conformar-se com os desígnios da Providência. Tinha ele então 56 anos.
Pôs-se a caminho, a pé, acompanhado apenas de um frade e dois criados. Ora, estava havendo uma seca muito grande em Valência, mas a chegada do novo arcebispo ocorreu debaixo de chuva, o que muitos interpretaram como sinal das bênçãos que deveria trazer sua administração à arquidiocese.
Conservou como arcebispo seu hábito religioso, que ele mesmo remendava. O cabido da arquidiocese fez-lhe presente de quatro mil ducados, para que comprasse trajes mais condizentes com seu posto. Imediatamente enviou-os ao hospital, agradecendo muito ao cabido e dizendo que o bem que era feito aos doentes ele o tomava como para si.
Começou sua administração pela visita pastoral à sua circunscrição eclesiástica, pregando por toda parte, resolvendo litígios, reformando conventos, extirpando os vícios. Promoveu um sínodo para acabar com muitos abusos e reformar o clero. Os cônegos do cabido recalcitraram e apelaram ao Papa, alegando que deste dependiam diretamente. “Eles não querem obedecer ao meu sínodo e apelam ao Papa; e eu, eu apelo de sua resistência a Nosso Senhor Jesus Cristo. Que eles escapem, se quiserem, à minha justiça, mas não escaparão da d’Ele”. Isso foi suficiente para dobrar o cabido, que se submeteu.
São Tomás teve também que enfrentar o governador que, intrometendo-se na esfera eclesiástica, quis julgar e condenar dois clérigos antes que eles comparecessem ante o tribunal eclesiástico. Como o governador não quis voltar atrás, lançou contra ele as censuras eclesiásticas. O caso foi parar no Vice-Rei, que teve também que ceder diante da tenacidade do santo prelado.
Extraordinária caridade e milagres
A caridade de D. Tomás era insuperável. Atendia diariamente no palácio a mais de 500 pobres, não importava a hora do dia ou da noite em que acorressem pedindo seu auxílio. Freqüentemente acompanhava seus atos de caridade com milagres. A um paralítico que lhe pedia esmola, perguntou se preferia trabalhar e ganhar o sustento com as próprias mãos. À resposta afirmativa, ele lhe disse: “Em nome de Jesus Crucificado, deixa tuas muletas e anda”. No mesmo instante, o pobre começou a andar e a agradecer.
São Tomás de Vilanova tinha arroubos e êxtases em público, diante de seus diocesanos, o que contribuía para aumentar a veneração que por ele sentiam. Seus milagres também eram conhecidos por todo mundo.
Entretanto, como ele dizia, nunca temera tanto salvar-se como desde o momento em que se tornou arcebispo. Isso, devido às responsabilidades que lhe cabiam, pelo bem das almas de todos seus diocesanos. Por essa razão, aspirava ardentemente a renunciar ao cargo e voltar para sua cela de religioso.
Enfim, quando ele suplicava com lágrimas a Nosso Senhor que o livrasse desse pesado fardo, o Crucificado lhe respondeu: “Tenha ânimo, que no dia do nascimento de minha Mãe virás descansar”.
E no dia 8 de setembro de 1555, foi ele receber o prêmio demasiadamente grande de sua fidelidade.
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